quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Biblioteca ao longo dos tempos

A palavra “Biblioteca” vem do grego, bibliothéKe (biblio - livros + théKe - armazém), significando armazém de livros. A origem das bibliotecas remonta a tempos longínquos, sendo a sua existência milenar, contudo a sua função e utilização tem sido muito diversa através das épocas.
Há cinco mil anos, os Sumérios já dispunham de bibliotecas, onde existiam obras escritas em placas de barro, cuidadosamente catalogadas. Na Antiguidade, várias bibliotecas deixaram uma marca indelével na História, pela sua grandiosidade e valor do acervo, salientando-se as de Alexandria, de Pérgamo, de Atenas, de Constantinopla, entre outras. Na Idade Média, as bibliotecas estavam confinadas aos conventos e deve-se aos monges a preservação de grandes obras, muitas das quais copiaram. No entanto, também mantinham em segredo ou destruíam obras que não eram aceites pela Igreja Cristã. (Recorde-se, a este propósito, “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, que ilustra esta situação.) Nessa época, os livros estavam presos às estantes, para evitar o seu furto e a utilização das bibliotecas era muito restrita, pois a sua localização tornava-as pouco acessíveis e a maioria da população era analfabeta.
Vários foram os materiais usados para a escrita, pela humanidade, durante séculos: cascas de árvore, placas de barro, papiro, pergaminho, cânhamo, trapos velhos… Mas só a partir da fabricação do papel, no século XII, e da invenção da imprensa por Gutenberg, no século XV, se verificou uma crescente difusão do livro e surgiu uma nova época para a difusão da cultura.
No decorrer dos séculos XVI e XVII, a arte de ilustrar livros foi alvo de consideráveis progressos e os governantes empenharam-se em tornar as bibliotecas acessíveis ao público. O século XVIII caracterizou-se pelo gosto dos conhecimentos e estes locais registaram um número crescente de leitores. Em Portugal, são dignas de destaque as Bibliotecas de Coimbra e de Mafra, no reinado de D. João V. Nos séculos XIX e XX, verificou-se um incremento da produção literária e todos os países civilizados desenvolveram imenso a criação e a organização de bibliotecas, destacando-se a preocupação de não as limitar apenas aos grandes centros, mas de as levar, também, aos sítios rurais. Surgiram, assim, as primeiras bibliotecas itinerantes, criadas pela Fundação Calouste GulbenKian, que descentralizaram o conhecimento, tornando o acesso aos livros possível nos locais mais recônditos.
Em pleno século XXI, assistimos a uma nova metamorfose da biblioteca, que se nos apresenta numa forma híbrida, isto é, com espaços, serviços e colecções simultaneamente físicos e virtuais, em que as novas tecnologias da informação e da comunicação, em parceria com o material livro/documentos escritos, procuram dar resposta às solicitações e expectativas diversificadas dos nossos dias.
A expansão das bibliotecas tem acompanhado o desenvolvimento da civilização e estas instituições afirmam-se como um agente imprescindível na execução da política educacional de um país.
Na sociedade actual, caracterizada por rápidas mutações e pela constante desactualização dos conhecimentos, a escola tem de desenvolver nos jovens novas competências que lhes permitam fazer face a estes desafios. Emerge, deste modo, a necessidade de modificar os paradigmas do ensino e de atribuir um maior reconhecimento ao papel das bibliotecas escolares, enquanto centros de recursos e espaços inovadores de aprendizagem e de desenvolvimento da autonomia no interior dos estabelecimentos de ensino. A criação de uma Rede de Bibliotecas Escolares constituiu uma das medidas da política educacional nacional destinada a optimizar as mais-valias das B. E., consideradas pedras basilares na construção de uma escola mais adaptada às exigências da sociedade em que vivemos e “retaguardas que contrariam os factores de exclusão” (Calçada, Teresa, in Jornal Público, 05/12/2004).
Podemos facilmente constatar que o conceito de bibliotecas se foi alterando ao longo dos tempos. Deixaram de ser “depósitos de livros” religiosamente guardados e rigidamente protegidos, para se tornarem um espaço plural, aberto ao maior número de pessoas. E um bom exemplo dessa transformação radical (eu diria, mesmo, revolução da divulgação cultural) é a Biblioteca Digital Mundial, que se encontra disponível on line, a partir do dia 21 de Abril de 2009, colocando à disposição de qualquer pessoa alguns tesouros da Humanidade.
E, citando Umberto Eco, “se a biblioteca é, como pretende Borges,, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num Universo à medida do homem” (Eco, Umberto, 1991, A Biblioteca, p. 44).

“O ensino das escolas tem de ser completado pelo ensino das bibliotecas. Escutar um mestre, mesmo excelente, não basta para formar um espírito. O papel do mestre é fornecer o recipiente que o aluno encherá com a leitura, a reflexão, a meditação.”

André Maurois, “Le Courrier de L’Unesco”
Lídia Valadares

3 comentários:

CICL disse...

Lídia, obrigado por esta lição de história tão interessante em relação às bibliotecas... lugares de culto para nós leitores, sejam elas públicas, institucionais ou pessoais.

Aproveitei para fazer uma hiperligação com um post que eu já tinha feito sobre o livro "encantador" «A Biblioteca» de Umberto Eco, para quem quiser conhecer...

La Sorcière disse...

Muito interessante!!! Uma verdadeira lição de história!
Eu costumo usar a biblioteca municipal da cidade onde trabalho. É ampla, silenciosa e com um excelente acervo!
Um abraço!

Unknown disse...

Muito bom o texto Lídia. Vou postá-lo em meu Blog.Dê uma espiadinha no meu blog. Abraços. Tânia Míriam.