quarta-feira, 4 de março de 2009

As Cidades Invisíveis

A semana passada, a Canochinha fez um comentário sobre este livro e deu-lhe pontuação máxima; fiquei logo com vontade de o ler... ainda por cima já o tinha em casa.
Sinopse: "Marco Polo fala a Kublai Kan das cidades do Ocidente, maravilhando o imperador mongol com as suas descrições. Estas cidades, no entanto, existem apenas na imaginação do mercador veneziano: a sua vida encontra-se apenas dentro das suas palavras, uma narrativa capaz de criar mundos, mas que não tem forças para destruir «o inferno dos vivos». Este livro tem o lirismo dos livros de poemas, poemas que por vezes descrevem cidades e outras vezes a forma de pensar e de ser dos seus habitantes. Invertendo os papéis do Livro das Maravilhas, através do qual Marco Polo revelou o Oriente ao mundo ocidental, Calvino arquitectou o livro que o estabeleceria como uma das referências incontornáveis da literatura pós-moderna."

A leitura foi realmente rápida, Italo Calvino transporta-nos para outra realidade visto que a estrutura do livro segue um plano rigoroso. Os contos vão-se alternando segundo um esquema que define a estrutura de capítulos, cada um dos quais precedido e seguido de um dos fragmentos da conversa entre as duas personagens: Marco Polo e Kublai kan.
Nada disto é, naturalmente, por acaso. Italo Calvino, através deste artifício, constrói o seu livro como que armado de régua e esquadro, como um arquitecto a construir cidades. As cidades, em si, são fascinantes. Todas são descritas em uma ou duas páginas, e são todas exemplares, oníricas, surreais. Todavia, estão recheadas de uma riqueza tal que, várias vezes assalta o leitor a vontade de conhecê-las melhor, de ler romances inteiros passados nelas, de andar pelas suas ruas (quando têm ruas) ou viver nas suas casas (quando têm casas).
Ao ler este livro, relembrei-me dos contos As Mil e Uma Noites, em que Sherazade conta todos os dias uma história fantástica ao sultão; assim se parece Marco Polo em relação a Kublai Kan. Chega-se ao fim do livro ao mesmo tempo satisfeito e insatisfeito, querendo mais, mesmo com a consciência de que a maioria das cidades desabaria assim que se tentasse concretizá-las melhor. Só poderiam existir na imaginação... O humanismo e a carga poética de As Cidades Invisíveis marcam qualquer leitor com propensão à universos fantásticos. Uma audácia da literatura: fusão de conto, crónica, poesia, carta e diário.

(Imagem de Marco Polo a chegar ao palácio de Kublai Kan)

Nota: 9/10

3 comentários:

Célia disse...

O livro é, de facto, excelente! Ainda bem que gostaste :)

Paula Abreu Silva disse...

A minha vontade e curiosidade em ler este livro, aliada à tua excelente opinião bem como a da Canochinha, fazem com que este romance seja um dos próximos a ler brevemente ! ;)

Bjinhos

susemad disse...

Italo Calvino surpreende sempre nos seus livros! Este é dos mais fascinantes, mas experimenta ler também "Se numa noite de Inverno um viajante" ou até mesmo a trilogia: "O Visconde partido ao meio", "O Barão trepador" e o Cavaleiro Inexistente" é fabulosa!