Este livro, de Luís Sepúlveda, conta-nos uma emocionante história que se desenrola à volta de um gato, Zorbas, que se vê envolvido numa situação dramática, quando uma gaivota, apanhada por uma maré negra, foi parar junto dele e, após um curto e emocionante diálogo, lhe fez prometer que tomaria conta do seu ovo, criaria a sua gaivotinha e a ensinaria a voar. Zorbas, comovido e aflito com o estado lastimoso e o desespero da gaivota, prometeu cumprir estas promessas. Mas, como irá ele cumpri-las? Um gato a ensinar uma gaivota a voar?!

- As dificuldades que os humanos têm! Nós, gaivotas, ao menos grasnamos o mesmo em todo o mundo – comentou uma vez Kengah para uma das suas companheiras de voo.” (Será destas dificuldades de linguagem dos humanos que resultam a incomunicação e a falta de entendimento? Ou será a cultura do eu?...). A este propósito, é de salientar o espírito comunitário das gaivotas, a solidariedade dos gatos ao ajudarem Zorbas no cumprimento da sua palavra, pois “os problemas de um gato de porto eram os problemas de todos”; a forte amizade estabelecida entre seres de raças diferentes: gatos e gaivotas (uma relação impensável); o respeito pela diferença, o valor do cumprimento da palavra, a generosidade, o espírito de sacrifício, a força de vontade… Que bonitas lições para os humanos!...
Quando Kengah foi apanhada pela peste negra e esperava o fatal desenlace, amaldiçoou os humanos: “ – Mas não todos. Nada de injustiças – grasnou ela debilmente!” Que apurado sentido de justiça!
É impossível não nos envolvermos num turbilhão de emoções, reflexões e sentimentos quando mergulhamos nesta fábula bem estruturada, em que coabitam situações cómicas, dramáticas, revoltantes, de rara sensibilidade e extremo carinho, num texto onde ressalta a beleza literária e a riqueza da mensagem.
Depois de Zorbas ter passado longos e incómodos dias no choco, um dia, a gaivotinha nasceu e “olhando para o gato, grasnou, na sua fragilidade: Mamã!” Quem fica insensível a este singular espírito de sacrifício do gato e a este momento de ternura?
Zorbas e os seus amigos deram o nome de Ditosa à gaivotinha, tendo em conta a dita de ficar sob a sua protecção. Ditosa cresceu depressa, rodeada de carinhos e tornou-se uma jovem e esbelta gaivota. Zorbas queria que Ditosa aprendesse a voar, mas esta queria ser gato como eles e miar. Os felinos ensinavam-lhe, com empenho, as técnicas de voo, depois de sucessivas pesquisas na enciclopédia. Mas Ditosa resistia… tinha medo.
Terão conseguido que a gaivota voasse? Deixo este ponto para descobrirem, quando lerem o livro. E, para finalizar, vou deixar aqui uma expressão retirada da última página, para reflectirmos: “… só voa quem se atreve a fazê-lo – miou Zorbas.”
Lídia Valadares
5 comentários:
Estive com este livro nas mãos, mas não comprei :( Agora estou curiosa.
Pode parecer uma estória de crianças, mas este livro de Sepulveda está entre os melhores cinco livros que li até hoje e já o ofereci a várias pessoas. É uma obra de arte que deveria ser lido por todos nós.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes
Este livro é uma excelente escolha!
É sensível, didáctico, tem umaescrita de fácil leitura e é de uma beleza indescritível!
Encontra-se contemplado no PNL, o que faz todo o sentido.
Este é um dos meus livros favoritos! É fabuloso!
Pois eu gosto de voar, ou seja, como professora há que voar muitas vezes para podermos pôr os alunos a voar (com a imaginação).
Com este romance, quem é que não voa? E tu és a culpada de pôr toda a gente a voar (desta vez por causa do amor).
Mas há lá sentimento melhor que nos permita voar como acontece com o amor?
É das obras que melhor ilustra os laços que podem unir as pessoas, utilizando os animais, desafiando todos os leitores e até aqueles que dizem nunca se apaixonarem.
Só tu para nos pores a magicar e a recordar os momentos idílicos.
Continua.
Isilda
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