Subitamente, lembrei-me que, no dia 8 de Março, se comemora o Dia Internacional da Mulher e assaltou-me a curiosidade de saber um pouco mais sobre a institucionalização deste dia, o seu historial… e, como navegar na Net é vogar de onda em onda, quando dei por mim, tinha encalhado num pensamento de William Shakespeare que dizia o seguinte: “Fragilidade, o teu nome é mulher!” Fiquei, por momentos, atracada nesta frase… “Fragilidade, o teu nome é mulher!”?! E mais atónita fiquei quando pensei no seu autor. Seria o mesmo Shakespeare de Romeu e Julieta, de Hamlet, o célebre dramaturgo e poeta inglês? É certo que remonta aos finais do século XVI, início do século XVII!... Em todo o caso, fiquei a remoer o pensamento.
“Fragilidade, o teu nome é mulher!”
Porquê?
Será porque a mulher
Aguenta tormentas, furacões,
Suporta a mais dura tempestade
Passa por indizíveis provações
Com uma singular dignidade
Sem vacilar sequer?!
Será porque…
É ela que povoa o mundo
E depois de dar à luz
Num feminino sofrimento
Logo que vê seu rebento
Sorri e, no mesmo segundo,
O seu doce olhar reluz
Iluminando o firmamento?
Será porque…
Tem a rara qualidade
De, no palco desta vida,
Ser diversas personagens
E vestir várias roupagens
Segundo a cena exigida
Da implacável sociedade?
Agora mãe, depois mulher,
E no meio a profissão
Tudo exige, tudo requer
Dela, a melhor condição
E, quando despe as personagens
E pode ser ela, afinal?
Mais logo, noutras miragens!...
Será porque…
Aguenta estoicamente
Com incrível resistência
Combater em várias frentes
Com louvável diligência
(quantas vezes discretamente)
Procurando entrementes
Não perder a elegância
Nem a suave fragrância
Do seu perfume de mulher?
Estamos perante um dilema:
A mulher é frágil ou não?
Afinal, é o mesmo problema
Que assaltou este escritor:
“Ser ou não ser, eis a questão!"
Pois bem, eu deixo a minha resposta em poema.
À vossa consideração!
À vossa consideração!
Curiosamente, na última revista “Sábado” (de 5 a 11 de Março), li um artigo baseado no livro (recentemente lançado) “Mulheres Aventureiras”, de Rosário Sá Coutinho, que fala precisamente de oito mulheres que, entre os séculos XVI e XIX desempenharam um importante papel económico e político em três continentes, consideradas heroínas fora de Portugal. E ironicamente pensei: “Estas não foram apresentadas a Shakespeare, apesar de algumas serem suas contemporâneas…”
Vou referir, a título de exemplo, os papéis relevantes de algumas delas: D. Maria d’Eça, na ausência do marido, capitão de Ceuta, tomou as rédeas do território português perante os avanços dos mouros e envolveu-se em negociações de paz; D. Maria Bárbara Garcês Pinto de Madureira, aristocrata minhota, tendo ido com o marido para o Brasil durante as Invasões Francesas, ficou a gerir sozinha o engenho do açúcar, em plena guerra da independência do país; D. Juliana Dias da Costa foi o braço-direito do Grão-Mogol, anfitriã de embaixadores europeus, médica e depositária da coroa; D. Antónia Rodrigues vestiu-se de rapaz, serviu numa nau, foi soldado, depois, promovida a cavaleiro, combateu contra os mouros e até o rei quis conhecê-la. Só se revelou mulher quando a quiseram casar…
Bem, deixo aqui, para vossa reflexão, alguns exemplos de fragilidades…
Lídia Valadares
9 comentários:
Neste Dia Internacional da Mulher; este texto é mais do que adequado.
Eu quero deixar aqui o nome de mulheres muito FORTES que são um exemplo para a minha vida: a minha mãe, a minha orientadora Ana N. Piedade, a minha madrinha Ana, as minhas amigas Lena, Rute, Rita, Lúcia, Isilda, Lídia, Gaetane, Christine, Patricia, Kris, Pegadita,... Nossa Senhora da Imaculada Conceição; ...e tantas outras. (Desculpem-me se me esqueci de alguma!o))
Essa frase de Shakespeare, vem na peça Hamlet, precisamente numa fala do príncipe Hamlet, que diz "Frailty, thy name is woman!" No sentido da peça, é em relação à mãe que é ingénua ao ponto de não perceber que o seu casamento com Claudius, o tio de Hamlet, é considerado incestuoso e que é este que provoca os males da Dinamarca (embora ele depois vá alargar esse conceito a todas as mulheres). Mas de qualquer maneira, nessa época a mulher era considerada um ser mais frágil, mais fraco por ser dominada pelas emoções. E essas mulheres de que fala eram excepções à regra e não eram bem vistas na sociedade da época. Felizmente as coisas mudaram, felizmente havia essas excepções à regra e é graças a elas que hoje podemos comemorar este dia!
Ah dia da mulher .... bom dia para se ficar por casa e vá lá que calhou um domingo ou nem na sexta nem sábado podia sair à noite. Já agora não há dia do homem ? (não me digam que são todos os dias ....)
Quanto à frase realmente o contexto deriva da peça .. mas digo.vos sinceramente qualquer homem lhe agrada algo de "fragilidade" numa mulher .. afinal os tempos podem ter mudado mas eu pelo menos sempre relacionei a mulher com um pilar, principalmente dentro de uma família, no entanto .. mesmo o pilar mais vigoroso tem "rachas" humanas .. talvez daí venha o encanto feminino .... um equilíbrio de força com uma fragilidade delicada.
Antes de mais, bom dia da mulher para as meninas.
Depois, porque gosto especialmente do vosso blog, atribui-vos uma pequena lembrança.~
D~em um pulinho ao meu blog para o levantar.
;D
Pois é! Tudo o que dizes é a pura realidade. Nos dias que correm, somos nós o alicerce em tudo o que de mais penoso existe nos nossos caminhos e percursos. Mais, mesmo em caminhos e percursos de todos os que nos rodeiam. Estamos sempre a ser solicitadas para tudo e para "acudir a todos os fogos". E não é por acaso que sempre que uma mulher ocupa um lugar de chefia, tudo é feito com mais rigor, seriedade e competência. Não concordam comigo? Muitas vezes digo que o mundo ainda vai ser das mulheres, mas acrescento: ele já é. Quem é a base de sustentação de uma família? Podem dizer o que quiser, mas é a mulher, esposa ou mãe que harmoniza, que resolve que suporta... Somos a âncora de um navio que constantemente é atingido pelas tempestades do mar!
Agora pusete-me a filosofar, ó Lídia! Ah, ah, ah!
Isilda
Pois... como a Diana tão bem explicou, 'fragilidade' é usada num outro contexto. As mulheres de hoje são tudo menos frageis!! Sensivel, sim!! Frágil NÃO!! Bjs!
Agradeço os vossos comentários, agrada-me esta interactividade!Gostaria, no entanto, de esclarecer alguns pormenores.Quanto ao facto de as mulheres por mim destacadas não serem muito bem vistas na altura (claro que não, desmentiam a tal fragilidade!), julgo ser do conhecimento geral. Que a mulher, naquela altura, era considerada um ser frágil (e Shakespeare não escapava a essa percepção), também me parece evidente. O que eu pretendi, subtilmente, foi pegar num mote (um pensamento de Shakespeare) e fomentar a reflexão. É que suspeito que agora, em pleno século XXI,ainda há quem partilhe desta ideia da tal fragilidade da mulher!...
Lidia Valadares
Na vida há 3 grupos de mulheres... as da sensibilidade da Lídia (são as lidianas), as da fibra da Isilda (as afonsinas) e as outras...
Jinhos
António Martins
António:
Bem-vindo ao nosso blogue! Adorei o teu comentário. Observador atento, sempre perspicaz e um exímio criador de palavras extremamente significativas... e fantásticas! Obrigada.
Um abraço.
Lídia Valadares
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