terça-feira, 31 de março de 2009

Raíz de Orvalho e outros Poemas

Sinopse: "Mia Couto habituou o leitor à sua escrita aglutinada, justaposta, criadora e inovadora, musical, intensa, profundamente meiga e crua, poética. Dialoga com o leitor com a maior das intimidades, numa quase perfeita sintonia. Raiz de Orvalho e Outros Poemas é uma recolha de poemas com datas diversas, com temas diversos, com um conjunto de novos poemas (todos da década de 80) e selecção de outros que faziam parte da edição moçambicana, publicada em Maputo, em 1983, com o título Raiz de Orvalho. Segundo o próprio autor, alguns não resistiram ao tempo, noutros ele próprio não se reconhece já. Mas todos estes versos fazem parte do seu percurso. E daqui ele partiu a desvendar outros terrenos. Terrenos que afortunadamente hoje podemos conhecer. Mas (e ainda segundo o próprio Mia), se sem esta escrita nunca teria experimentado outras dimensões da palavra, nós nunca poderíamos ter partilhado da beleza comovente das imagens, da música doce e profunda dos vocábulos, da palavra certa que só ele encontrou e que tantas vezes quisemos ser nós a dizer, das cores profundas e intensas das emoções. Esta é uma poesia única, de alegria, de desespero e de amor, de solidariedade e humildade, de qualidade rara, porque sentida e escrita e lida à flor da pele. Uma experiência enriquecedora para quem a partilha. Um privilégio para quem nela se fundir. Ler Mia Couto é sentir, viver, regressar às próprias raízes do mundo, uma espécie de exploração da natureza humana na sua relação umbilical com a terra."

Ler Raiz de Orvalho é estar num constante para além da escrita, da palavra em busca do transcendente, da essência do mundo. Apesar do poeta acreditar que “nenhuma palavra/ alcança o mundo”, ele “ ainda assim,” escreve…

A ligação antitética da raiz (terra) e orvalho (céu) concedem à escrita/palavra outras dimensões… Porém cada palavra foi inventada com o genuíno poder de apenas lhe conferir um só sentido, como se nenhuma outra pudesse ter sido utilizada em seu lugar. Através da leitura, vivi grandes emoções, onde se entrecruzaram uma dicotomia de emoções, senti e ouvi a melodia da palavra…
Uma sintonia sublime entre o eu e a palavra.
Nota: 8/10
Ana Lúcia Baptista

3 comentários:

Julianna Steffens disse...

Adorei o blog de vocês, vou add na lista dos blogs que sigo^^ tb tenho um blog relacionado a literatura, onde escrevo resenhas sobre chick-lits... dêem uma passada lá =o*****************

isilda disse...

Como já vou sendo uma "amante" das palavras de Mia Couto, agradeço à Drª. Cristina a divulgação deste autor. Ele é um autêntico desenhador de palavras e que gosta de "brincriar" com elas. Mas também é com elas que brotam as raízes ancestrais da verdadeira alma africana. Essas raízes não estão muito longe das nossas. Aquilo que lemos em Mia Couto é um pouco o espelho da história da nossa identidade.
Aconselho este e outros e vão deliciar-se com a originalidade e, às vezes, o humor do discurso.
Não se admirem com este conselho: é que eu sou moçambicana.

Isilda Lourenço Afonso

Anónimo disse...

Sinto o tempo parar
Embrenhando pelo amor
Em tons de dilúvio
Vem ventos em remoinhos
São alturas, são tempos
Que gritam contentamentos
Sinto-os elevar.
Vem sem ciscos nem poeiras
Sôfrego no tempo
De quem é gente
E sabe amar.

Escuta…
O som do vento
Ele leva-te o meu lamento
Ele leva-te o meu tormento

Ele conta-te como te quero.

São lindas estas quadras não acham…

HC