domingo, 27 de setembro de 2009

Poesia

As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.
É à janela dos filhos que as mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas
Muitas mulheres transformam-se em paisagens
Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos
As mulheres aspiram para dentro
E geram continuamente.
Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração.

Daniel Faria - "Homens Que São Como Lugares Mal Situados" (1998)
Não é fácil colocarem-me a ler poesia... já sabem disso.
Ler poesia tem de ser uma necessidade, um desejo...
Não podemos "amar" a poesia, se esta não nos disser nada; pois bem...! Ofereceram-me este livro de Poesia de Daniel Faria (1971/1999) e ainda bem que o fizeram. Uma história de vida trágica e mística, poemas profundos que aconselho a todos a procurarem e a lerem ao sabor do tempo.
Pousa devagar a enxada sobre o ombro
Já cavou muito silêncio
Como punhal brilha em suas costas
A lâmina contra o cansaço
Daniel Faria - "Explicação das Árvores e de Outros Animais" (1998)

2 comentários:

Fernanda disse...

Concordo plenamente contigo qdo dizes que não podemos "amar" a poesia se ela não nos disser nada.
Ao que parece esse autor tb me diz algo.
Vou investigar mais.

Obrigada pela dica.
E boas leituras!

CICL disse...

Obrigado Marta... Beijos