Eureka!... Até que enfim há uma notícia que nos alegre. Ufa!
Nestes dia sombrios, chuvosos, melancólicos e nada risonhos, tudo nos angustia e tudo o que há de mau na sociedade, ou na nossa vida, aparece de uma forma inesperada.
Ora, decidi iniciar a leitura do jornal Expresso, na esperança de ler algo que me alegrasse ou enriquecesse a minha culturazita. E não é que aconteceu? Tenho de partilhar convosco. Na página 23 do caderno principal (Expresso, 24/01/2009), o título e os bonequinhos coloridos obrigaram o meu "olho clínico" a ler, observar e até a reler. Nem queria acreditar. O título é: "Português, Quanto vale a língua?". Até a própria página está engraçada e bem concebida.
Nem tudo vai mal. Resulta esta notícia de um estudo europeu que conclui que "11% das pequenas e médias empresas na União Europeia perdem contratos em resultado directo da escassez de competências linguísticas...". E mais adiante continua: "O português já não é só uma língua de negócios. Está em expansão mundial...". Agora aprendi algo. Reparem: "Os especialistas chamam-lhe a língua megacentral (como o espanhol e o francês), logo a seguir ao inglês (hipercentral). Já somos 244 milhões e muitos querem aprendê-la, porque acham que vão necessitar dela no futuro: para trabalhar, viajar e comunicar (estudo divulgado pelo Instituto Camões). Até já adquiriu o direito a ser usada nos diálogos e instituições internacionais!
Adorei tudo isto! Como professora e cidadã do mundo da lusofonia, deu-me outro ânimo para o ensino (já que as competências que os nossos alunos apresentam deixam-nos de rastos e a família desatenta e inculta não se preocupa). Até vou falar neste estudo aos meus alunos. É que as 10 figuras mais famosas como falantes da língua lusa misturam actividades como o futebol (e não é a maior parte), a política, a música e a literatura (são 5, cerca de 50% da lista). Vou nomear por ordem crescente de importância, tal como são apresentados os resultados do estudo: Lula da Silva, Ronaldinho Gaúcho, Figo, Ronaldo, Cristiano Ronaldo, José Saramago, Fernando Pessoa, Camões, Cesária Évora e Mia Couto. Claro que o maior número de falantes está no nosso querido Brasil (191,6 milhões), a seguir vem Moçambique (21,4), Angola (17), Portugal (10,6) e depois Guiné-Bissau, Timor Leste, Cabo Verde e São Tomé. O estudo ainda conclui que entre 2000 e 2008, o português foi a segunda língua que mais cresceu, depois do árabe, nos utilizadores da Net.
Como professora e formadora, fiquei radiante com o facto de haver 5 escritores na lista e 3 deles contemporâneos. Os esforços dos professores têm sido reconhecidos, suponho eu, com estes resultados. Não é só a nossa influência enquanto transmissores do saber, mas também pelo facto de conseguirmos o gosto pela literatura. Com tudo isto, já me passou a melancolia. E como eu adoro Mia Couto, um dos laureados da lista e que, na minha opinião, será num futuro muito próximo um ícone da literatura de expressão africana, tenho de partilhar com esta comunidade de leitores (isto já vai sendo um vício) um poema que me veio às mãos da sua autoria. Espero que gostem, porqe ilustra o que está subjacente a este estudo, agora publicado. Além disso, eu sou moçambicana, amante das histórias de cunho oral de África e das palavras.
Tropecei no alfabeto logo ao nascer,
caí no verbo.
Invejei poetas, dizeres ímpares
Palavras seculares, versos românticos.
Invoquei-os.
Não ouvi respostas
Apenas o eco do silêncio.
Percebi então que faço melhor do que eles.
Aprendi a florir flores
A salgar o sal e a adoçar o doce com a entrega de palavras
Que ainda não nasceram,
As mesmas que me habitam a alma.
Aplaudi-me.
Percebi que melhor que ser poeta,
É ser palavra.
Mia Couto
O estudo pode ser complementado com a consulta ao Instituto Camões. Aí existem outras informações preciosas sobre a nossa língua, literatura e eventos da lusofonia. Espero que vos tenha dito algo de útil e que vos faça pensar.
1 comentário:
Cara Amiga Isilda, como sempre com olho de linx à procura de motivos interessantes para reflectir! É verdade, hoje não apetece muito sair. Não vi ainda o Expresso, mas prometo que vou ler, se o nosso português ultrapassa barreiras mundiais, há que nos alegrar. E por isso continuamos, como professoras que amam o que fazem, a ler, a escrever e a incentivar os nossos queridos alunos para a nossa querida Língua Portuguesa, poucos ou muitos, alguma diferença havemos de fazer na nossa comunidade e no nosso país.
Obrigado por partilhar conosco este poema de Mia Couto.
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