sábado, 31 de janeiro de 2009

A Herança do Vazio

"No nordeste dos Himalaias, numa casa isolada no sopé do monte Kanchenjunga, vive Jemubhai, um velho juiz amargurado, que de tudo o que quer é reformar-se em paz e dedicar o seu afecto à única criatura que ama, a sua cadela Mutt. A chegada da sua neta órfã, Sai, abalará o seu sossego, obrigando-o a remexer as suas memórias e a repensar a sensação de estranheza na própria pátria. Tudo isto se acentuará como romance entre Sai e Gyan, um nepalês que se envolve numa revolta que alterará inquestionavelmente a vida de Jemubhai. A serenidade da vida do juiz contrasta com a vida do filho do seu cozinheiro, Biju, que saltita de sucessivamente de restaurante em restaurante, em Nova Iorque, à procura de emprego, numa fuga constante aos Serviços de Imigração. Julgando que o filho leva uma vida boa e que acabará por vir buscá-lo para junto dele, o cozinheiro vai arrastando os seus dias."
In contra-capa.
Este livro prendeu-me a atenção por causa da imagem da capa. Conhecia-a de algum lugar, de algum momento. Só mais tarde já em casa, percebendo nele uma estranha familiaridade percebi que a conhecia de um qualquer sonho. Estranho. Estranho livro. Estranha história. Estranhas personagens. Estranha herança, esta. Agora ao ver o livro já só e calado na estante, preso no peso dos outros, sinto percorrer em mim toda essa estranheza. E percebo tão bem essa herança brutal. Da inexistência. De algo. De alguém. De sentido. De sentimentos. Não é a minha história. Mas identifico-me imenso com ela. Com essa herança com que a vida por vezes nos presenteia, ainda que ferozmente a queiramos recusar. Parece-me que a autora consegue sentir e transmitir muitíssimo bem essa realidade. Está longe de ser um dos meus livros preferidos, mas contém muito daquilo que é a minha vida recente. Talvez por isso ele me seja tão significativo. Porque este vazio se refere à ausência. De pessoas queridas. De momentos especiais que ficaram lá atrás. De lugares distantes. De nós próprios na infância ou na juventude. Mas este vazio, esta ausência é fundamental. É o encontro com o nosso existir e o ponto de partida para procurar de outro modo, preencher esse vazio.

Nota: 8/10

5 comentários:

CICL disse...

Olá Kris, já falamos sobre este livro... e sou sincera não gostei, nem amei! No entanto tenho de dizer que a tua crítica está muito bem feita e sei exactamente o que tu sentes... Coragem, os amigos não substituem nem encham o vazio, mas estamos cá para ajudar!

Pedro disse...

Não conhecia... Mas fiquei bastante interessado!

Cristina Mateus disse...

Realmente nada enche esse vazio. Mas os amigos, a família e o nosso amor-próprio modificam o modo como vemos esse vazio. E o que era antes um poço sem fundo, um abismo imenso, modifica-se lentamente. Aos poucos os olhos desprendem-se do chão e o silêncio da ausência torna-se numa caminhada pesada mas segura que a pouco e pouco se torna leve e toda a nossa mágoa se desvanece na magia dos sonhos que de novo lembram que esta existência perdura ainda. Obrigada por tudo Cristina. Tem grande responsabilidade neste meu "renascimento" ;)

Paula Abreu Silva disse...

Já há algum tempo que li este livro ! Lembro-me do choque de culturas entre o Oriente e o Ocidente constituir o fio condutor desta narrativa, mas sobretudo da solidão que pendia sobre os Himalaias e de suas almas solitárias que encontravam algum reconforto entre as místicas e belas orações tibetanas ...

Curiosamente, estou agora a ler "Festas de Casamento" de Naguib Mahfouz, sendo que uma das coisas que me atraiu foi precisamente a imagem na capa ... similar à imagem de "A Herança do Vazio" ! ;)

Bjinhos

Paula disse...

Passei para dizer que tens um prémio no meu blogue.

;)