Numa aldeia ribatejana, havia uma casa, situada perto da então designada escola primária, era a do avô Augusto, também conhecido pel’ O Pião. O avô Augusto era um homem alto, magro, com umas mãos enormes, muito dedicado ao trabalho e à família.
O avô Augusto era o sapateiro da aldeia, pelo que conhecia todas as pessoas e passava parte do seu tempo à conversa com elas. Pelas manhãs, vagueava pela aldeia para fazer a distribuição dos sapatos em busca do seu ganha-pão. Um dia convidou-me para o acompanhar. Agarrei a enorme mão do avô e parti com ele para mais um dia.
Chegámos perto de uma casa muito velhinha e o avô bateu à porta. Esperámos algum tempo e, de repente, a velha porta abriu-se:
-Bom dia Senhora Emília! Como tem passado? -disse o avô.
-Bom dia Senhor Augusto! O que o traz por cá hoje!
-Os sapatos, venho-lhe trazer os seus sapatos.
-Ah! Senhor Augusto a vida está tão má, eu não lhe posso pagar. Espero que compreenda, o meu marido está doente e…
Do interior da casa, ouviam-se gritos:
- Emília quem está aí? Oh mulher! quem é?
A Senhora Emília envergonhada respondeu:
-É o Senhor Augusto e a sua netinha.
-Quem?
-O Pião.
-Não… Nós não temos dinheiro. Guarda os tostões para o pão!
O avô Augusto percebeu que não havia dinheiro para pagar o conserto dos sapatos. Ficou sério, olhou para a senhora Emília e disse:
-Não se incomode, fique com os sapatos e pagará quando puder.
O Avô agarrou a minha mão e seguimos rumo a casa. Já estávamos longe, no entanto ainda se ouvia a senhora Emília a gritar “Bem-haja, Bem-haja Senhor Augusto”. Como não tinha percebido as palavras da senhora Emília, perguntei ao avô:
- O quer dizer Bem-haja?
- Obrigado. Explicou o avô.
- Avô…
- Diz Ana, o que é?
- Como é que vai comprar o nosso pão?
- Ana, ouve bem as palavras deste homem velho e cansado. Se ajudares os outros, serás sempre recompensada.
Após um momento de silêncio, o avô abraçou-me e retrucou:
- Não te preocupes, cá nos havemos de arranjar.
O avô Augusto era assim, sempre compreensível e amigo daqueles a quem a vida pouco deu.
Fiquei comovida, com uma lágrima no canto do olho, e disse:
-Avô, tu és amigo das pessoas…Gosto tanto de ti.
O avô apertou fortemente a minha mão e continuámos a árdua tarefa de entregar o calçado às pessoas de aldeia.
O dia chegava ao fim e eu já apresentava alguns sinais de cansaço. A noite estava a ficar escura e amedrontadora. Segurava-me cada vez mais àquela mão forte para me proteger dos meus fantasmas de criança…
Quando, de repente, balbuciei timidamente:
-Avô está…a… a escurecer.
-Não tenhas medo, Ana. À noite as estrelas brilham e indicam-nos o caminho a seguir. A estrelinha cintilante é o teu Anjo da Guarda.
Olhei para o Céu à procura da Estrela, do meu Anjo da Guarda… Porém, como não a encontrei, perguntei com alguma tristeza:
-Avô! não consigo ver o meu Anjo da Guarda?
-Olha para as estrelas e ouve o teu coração!
Cresci na esperança de encontrar aquela estrela… Esperei muitos anos. Só a encontrei mais tarde, no dia em que tive de explicar aos meus filhos, Rafael e Beatriz, que o avô Augusto vivia agora naquela estrelinha cintilante…
Ainda hoje me lembro das palavras do avô, apesar de não saber ler nem escrever, era um velho sábio porque a vida ensinara-lhe muito. Aquelas rugas personificavam as tristezas e as alegrias de uma longa caminhada.
O avô Augusto era o sapateiro da aldeia, pelo que conhecia todas as pessoas e passava parte do seu tempo à conversa com elas. Pelas manhãs, vagueava pela aldeia para fazer a distribuição dos sapatos em busca do seu ganha-pão. Um dia convidou-me para o acompanhar. Agarrei a enorme mão do avô e parti com ele para mais um dia.
Chegámos perto de uma casa muito velhinha e o avô bateu à porta. Esperámos algum tempo e, de repente, a velha porta abriu-se:
-Bom dia Senhora Emília! Como tem passado? -disse o avô.
-Bom dia Senhor Augusto! O que o traz por cá hoje!
-Os sapatos, venho-lhe trazer os seus sapatos.
-Ah! Senhor Augusto a vida está tão má, eu não lhe posso pagar. Espero que compreenda, o meu marido está doente e…
Do interior da casa, ouviam-se gritos:
- Emília quem está aí? Oh mulher! quem é?
A Senhora Emília envergonhada respondeu:
-É o Senhor Augusto e a sua netinha.
-Quem?
-O Pião.
-Não… Nós não temos dinheiro. Guarda os tostões para o pão!
O avô Augusto percebeu que não havia dinheiro para pagar o conserto dos sapatos. Ficou sério, olhou para a senhora Emília e disse:
-Não se incomode, fique com os sapatos e pagará quando puder.
O Avô agarrou a minha mão e seguimos rumo a casa. Já estávamos longe, no entanto ainda se ouvia a senhora Emília a gritar “Bem-haja, Bem-haja Senhor Augusto”. Como não tinha percebido as palavras da senhora Emília, perguntei ao avô:
- O quer dizer Bem-haja?
- Obrigado. Explicou o avô.
- Avô…
- Diz Ana, o que é?
- Como é que vai comprar o nosso pão?
- Ana, ouve bem as palavras deste homem velho e cansado. Se ajudares os outros, serás sempre recompensada.
Após um momento de silêncio, o avô abraçou-me e retrucou:
- Não te preocupes, cá nos havemos de arranjar.
O avô Augusto era assim, sempre compreensível e amigo daqueles a quem a vida pouco deu.
Fiquei comovida, com uma lágrima no canto do olho, e disse:
-Avô, tu és amigo das pessoas…Gosto tanto de ti.
O avô apertou fortemente a minha mão e continuámos a árdua tarefa de entregar o calçado às pessoas de aldeia.
O dia chegava ao fim e eu já apresentava alguns sinais de cansaço. A noite estava a ficar escura e amedrontadora. Segurava-me cada vez mais àquela mão forte para me proteger dos meus fantasmas de criança…
Quando, de repente, balbuciei timidamente:
-Avô está…a… a escurecer.
-Não tenhas medo, Ana. À noite as estrelas brilham e indicam-nos o caminho a seguir. A estrelinha cintilante é o teu Anjo da Guarda.
Olhei para o Céu à procura da Estrela, do meu Anjo da Guarda… Porém, como não a encontrei, perguntei com alguma tristeza:
-Avô! não consigo ver o meu Anjo da Guarda?
-Olha para as estrelas e ouve o teu coração!
Cresci na esperança de encontrar aquela estrela… Esperei muitos anos. Só a encontrei mais tarde, no dia em que tive de explicar aos meus filhos, Rafael e Beatriz, que o avô Augusto vivia agora naquela estrelinha cintilante…
Ainda hoje me lembro das palavras do avô, apesar de não saber ler nem escrever, era um velho sábio porque a vida ensinara-lhe muito. Aquelas rugas personificavam as tristezas e as alegrias de uma longa caminhada.
Também escrevo... espero que gostem...
7 comentários:
Não vou escrever muito...porque o que tinha a dizer sobre a tua história, já o dsse pessoalmente...
No entanto... Ainda bem que existem pessoas que marcam as nossas vida de modo a sermos pessoas melhores, mais humanas, mais sinceras, mais honestas.
Agradeço ao teu avô por ter sido esse teu mentor.
adorei seu blog!
vou segui-lo partir de hoje!!!!!
parabéns!
beijos!
Uauh..., Ana Lúcia!
Adorei o texto! Eu já sabia que era uma erudita, mas este texto também mostra que os seus alunos a têm influenciado para a escrita ao nível de escritores infanto-juvenis. É assim que se vão descobrindo os talentos. Isto é para continuar, não é?
Esta malandra não se mostra!...
Isilda
Olá Ana, um belo texto tem aqui neste post, aliás talvez assim como você as letras são uma das minhas melhores companhias, gostei daqui e deixo o convite para que me visite também.
Abraços
Marco
Amei o texto! Parabéns!
Tem uma simples homenagem para todos os blogueiros que visitam o Compartilhando Leituras! Quando tiver um tempinho passe lá para conferir!!!
;)
muito bonito! Parabéns! beijinhos
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